quarta-feira, 20 de abril de 2016

Belas, ousadas e do bar. As autênticas primeiras-damas do Brasil

Marcela Temer, "Bela, recatada e do lar" segundo a Veja.
A revista Veja- maior circulante do Brasil- nos premiou com mais uma pérola. No momento de maior crise política dos últimos tempos- e apoiando claramente o hipotético e lamentável Governo Temer- o editorial da revista nos apresenta uma ideologia de visão da mulher que corresponde ao atraso oriundo do século XX, de uma mulher “Bela, recatada e do lar”. A personagem é a vice-primeira-dama, Marcela Temer. O objetivo de tal editorial é apresentar à população que o provável governo “golpista” (opinião estritamente pessoal) terá um retrato da “tradicional família brasileira”. Nota-se tradicional como aquilo ou aqueles que não são capazes de lidar com o novo.
            Surpreende e felizmente, o tiro saiu pela culatra. Imediatamente uma enxurrada de críticas propagaram-se nas redes sociais. Mulheres “normais” postaram aos montes seus momentos mais íntimos e que em nada tem a ver com o estilo que a revista tentou passar aos leitores. O retrato das mulheres, como mostraram as manifestantes da rede, deve ser feito por elas mesmas.
            Vale a pena lembrar que: O excelentíssimo vice-presidente Michel Temer, é acusado, principalmente via-delação premiada, de diversos crimes à serem julgados. Paira sobre ele a maior conspiração de um vice-presidente em exercício de mandato atualmente entre todas as democracias do planeta. Há também uma das maiores rejeições entre os “presidenciáveis”. Sem contar com os 58% de brasileiros que desejam seu impeachment imediatamente- apenas 3% a menos do que os que querem a saída de Dilma, segundo o DataFolha. Para quem quer ser representado como algo de “moral” e dos bons costumes, há de se maquiar muita coisa para que esta farsa passe batida.
Desculpe Veja, não foi, é ou será a Marcela Temer que representa a mulher do Brasil. A mulher brasileira é aquela que acorda seis da manhã para cruzar cidades em transportes públicos lotados, enfrenta o mais bruto dos machismos cotidianamente, faz comida para os filhos, ainda apanha, lava, passa, cozinha, cuida de casa ou não faz nada disso. Ela é bela porque o que faz é lindo. Não porque tem cabelo loiro e alisado. Ela é bela porque sempre prefere dar prioridade aos seus filhos. E quando não os tem, sempre há quem pensar antes. Mulher de verdade é assim. É delas. Ela é bela porque em seu rosto não sai o sorriso estampado- nem mesmo quando o filho está doente- peregrina em dezenas de hospitais públicos, é humilhada de todas as formas, enquanto a “bela” vice-primeira-dama está sorrindo ao lado de quem deveria estar construindo hospital ao invés de conspirar contra o próprio governo, o qual usurpou como pode nos últimos 12 anos. Ela é bela porque é brasileira e mesmo obrigada a ver capas como essas da revista Veja, não se deixa abater. Afinal, é só mais um dentre tantos absurdos e violações públicas de direitos.
Por felicidade, não são nada recatadas. São ousadas. São donas de casa, donas mesmo. Tomam cerveja, vão para boate, bar, bebe todas até cair (se quiser), fuma maconha (se quiser), aborta (se quiser e deveria poder), tem piercing, cabelo roxo, vermelho ou verde. Beija homem, mulher; beija os dois. E é recatada a hora que quiser. A mulher pode ser do lar, da rua, dona das finanças da casa. Pode bancar marido, ter 45 anos e namorar um de 25. São tantas descrições que seria como escrever um manual de tudo o que a mulher pode ser. Justamente- tudo. Se quiser, até presidenta!
Já disse em outras oportunidades: “Mulher nasceu para pilotar avião e não fogão”. Mas se quiser, que seja feliz no fogão. Não cabe à mida, ao governo, ao papa ou a mim definir o que é ou podem ser as mulheres. Cabe tão somente a elas. É vergonhoso fazer parte de um país aonde se preocupam mais com os costumes, aparências e estilos retrógrados querendo encaixar mulheres aonde não é possível. É como querer guardar um elefante em um aquário. Não há mais espaço para preconceitos. Fazem com as mulheres o mesmo que fizeram e fazem com os índios, negros, gays, haitianos.

Nosso congresso não nos representa. Homens e mulheres de bem, pobres, belos, recatados ou não, vocês são a maioria. A hora dos ignorantes está chegando e eles sabem disso. Mulheres gordinhas ou magrinhas. As que vestem manequim 36 ou 42 já apertado. Altas ou baixas; Loira, morena, careca ou cabeluda; recatada ou ousada; “do lar” ou do bar. São vocês, como quiserem, que são belas. Não deixem que falem, jamais, ao contrário. São vocês as autenticas primeiras-damas desse país. 

7 comentários:

  1. Se sou antiquado ou não, continuo gostando de mulheres as antigas.

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    1. Você pode- e deve- gostar do que quiser. E as mulheres podem-e devem- ser como quiser :)

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  2. Só um detalhe, independente do sexo, cuidado com as drogas.

    https://www.youtube.com/watch?v=ZtZCN_1W8J8

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  3. "gordinhas ou magrinhas ou gorda, manequim 36 ou 42 ou 48 ou +50 TAMBÉM." Ótimo texto, faltou apenas visibilizar as gordas!

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